Li alguns livros de Dostoievsky em minha vida. Bem menos do que eu gostaria, diga-se de passagem. Mas posso afirmar, com certeza, que ele foi um dos formadores de minha alma adulta. As obras que li (Eterno Marido, Recordação da Casa dos Mortos, O Jogador, Irmãos Karamazóv, Humilhados e Ofendidos, O Idiota, Memórias do Subterrâneo, Nietóchka Niezvânova, Crime e Castigo, A Aldeia Stepantchikovo, O Adolescente e Os Demônios) me acompanharam durante a infância, ao lado de outras obras, de outros autores, com aquele olhar de "parece que você está crescendo". Espero que tenham sido olhares de aprovação, que meu crescimento tenha sido tanto espiritual, como emocional. Tanto quanto a cronologia da idade exigiu.Teve, porém, um trecho, que encontrei em um blog da Internet (que o dono me perdoe, porque não me lembrei de copiar a página dele para citá-lo. Mas prometo que farei isto, tão logo esteja mais organizada) que me fez repensar aqueles tempos de menina. E compará-los aos dias dinâmicos de hoje, quando respiramos informática de uma maneira tão geral que nosso cérebro simplesmente não consegue reter nem 0,0001% das informações que vemos no dia-a-dia via Internet. Pois bem, em 1876, Fedor Dostoievsky começou a publicação de uma folha mensal que pretendia que fosse "um diário íntimo, em toda a acepção da palavra, isto é, um fiel relato do que mais me interessou pessoalmente." Ou seja, algo muito parecido com um blog. Mas três meses depois ele escrevia: "Custa a crer, mas é verdade, ainda não encontrei a forma do Diário, e não sei se algum dia a encontrarei... Assim, tenho 10 ou 15 assuntos (pelo menos) para tratar, quando me sento para escrever. Todavia, os meus assuntos preferidos, afasto-os involuntariamente. Ocupar-me-iam demasiado espaço, exigiriam demasiado ardor da minha parte e, deste modo, não escrevo o que me agrada. Por outro lado, imaginei com demasiada ingenuidade que se trataria de um autêntico "Diário". Um verdadeiro "Diário" é impossível; só se pode fazer um diário artificialmente preparado para o público...". Considerei esta, uma passagem inolvidável. E não pude deixar de me identificar com algumas das coisas que são ditas nela. Penso, designadamente, na forma como a temporalidade dos blogues difere daquela presente em outras escritas (aquelas antigas cartas, os bilhetes traquinas, um livro impresso, um jornal). Tudo a ver com a dinamicidade da informática e sua quantidade imensurável de informação (que nosso cérebro não consegue reter). Acredito que a importância desta "dissociação de temporalidades", não deve ser desconsiderada porque, seguramente, o tempo dos blogues pode vir a nos aprisionar e repentinamente, podemos nos tornar, de forma inconsciente e involuntária, reclusos desse tempo.
Bem, para manter este "papo-cabeça" (rsrsrs), separei 1 clipe de Música Popular Brasileira. Daquelas bem puras: Chico Buarque, por ele mesmo, ao lado de Nara Leão. O clipe se chama "Roda viva" e faz parte da trilha sonora do filme "Cabra-cega" de Toni Venturi em 2004.
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